O título do livro de Ivan Illich chama atenção de qualquer educador, em particular, daqueles que acreditam ser possível melhorar o sistema educacional. Para o autor, a descolarização da sociedade só traria benefícios as novas gerações. Inicialmente, Illich faz uma sequência de comparações econômicas e conclui que o sistema educacional é uma criação que a cada momento busca-se mais e mais recursos do erário público sem o devido retorno. Para justificar este aumento cita a "Lei de Parkinson, segundo a qual o trabalho aumenta com os recursos disponíveis para realizá-lo." (p. 79)
O autor é crítico severo da obrigatoriedade de frequência escolar. Segundo ele, " A igualdade de oportunidades na educação é meta desejável e realizável, mas confundi-la com obrigatoriedade escolar é confundir salvação com igreja." (p. 35)
Para Illich, " A escolaridade não promove nem a aprendizagem e nem a justiça, porque os educadores insistem em embrulhar a instrução com diplomas. Misturam-se, na escola, aprendizagem e atribuição de funções sociais. Aprender significa adquirir nova habilidade ou compreensão, enquanto que a promoção depende da opinião formada de outros. A aprendizagem é, muitas vezes, resultado de instrução, ao passo que a escolha para uma função ou categoria no mercado de trabalho depende, sempre mais, do número de anos de frequência à escola." (p.36) Não há como negar que, atualmente, devido a este aspecto de institucionalização do saber, o diploma é mais importante do que o know-how. "Aristóteles já havia descoberto que fazer é agir são diferentes, tão diferentes que nunca inclui o outro. "Porque nem o agir é uma forma de fazer, nem o fazer é verdadeiro agir. A arquitetura (techné) é uma forma de fazer... de trazer algo para a existência cuja origem está no que faz e não na coisa. O fazer tem sempre um fim distinto de si mesmo, o agir não; pois a boa ação é ela prórpia seu fiim. A perfeição no fazer é arte, a perfeição no agir é Virtude"(Ética a Nicômaco, 1140). A palavra que Aristóteles usava para designar o fazer era poesis e para agir era praxis."(p.109). Em muitas empresas, antigos funcionários, com larga experiência são impedidos de alcançar cargos com melhor remuneração simplesmente por não ter diploma. Muitas vezes ficam desestimulados e observando à distância os erros dos "mais habilitados".
Illich recorre a Weber para mostrar o quão nefasta é a sociedade escolarizada. "Assim como Max Weber traçou os efeitos sociais causados pela crença de que a salvação era reservada aos que haviam acumulado riquezas, assim podemos observar agora que a graça é reservada àqueles que acumulam anos de escola." (p.84) Este é, de fato, um grande problema da sociedade contemporânea.
Os jovens acadêmicos são estimulados a permanecer mais tempo nas universidades. À eles é sugerido fazer o mestrado logo após a graduação ou o doutorado, logo após o mestrado. Os que seguem está linha "acadêmica ideal" estarão formados, em média, aos 28 ou 30 anos. "Prontos" para serem introduzidos ao mercado de trabalho. Prontos? Como defende Illich, a aprendizagem não depende dos diplomas e muitas vezes é pela experiência ou por contato com os pares que o conhecimento é assimilado. Se essa "sequência acadêmica ideal" for seguida por todos os jovens, teremos que admitir que o sistema educacional seria inviável economicamente, mesmo para a maior potência mundial. " A Nova Igreja do Mundo é a indústria do conhecimento, ao mesmo tempo fornecedora de ópio e lugar de trabalho durante um número sempre maior de anos na vida de uma pessoa. A desescolarização está, pois, na raiz de qualquer movimento que vise à libertação humana." (p. 87)
"Desescolarizar significa abolir o poder de uma pessoa obrigar outra a frequentar uma reunião. Também significa o direito de qualquer pessoa, de qualquer idade ou sexo, convocar uma reunião. Esse direito foi drasticamente diminuído pela institucionalização das reuniões. 'Reunião' significa originalmente o ato individual de juntar-se. Agora, significa o produto institucional de alguma agência." (p.153)
Um aspecto recorrente no texto de Illich é a crítica direta ou indireta ao profissional da educação. "A escola, direta ou indiretamente, emprega a maior parte da população." (p. 87)
ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. 4 edição. Ed. Vozes. Petrópolis, 1977.